domingo, 14 de agosto de 2011

Nadia Gamal (parte 1)

Por Lalitha


Resolvi escrever sobre a Nadia Gamal, meu grande ídolo e paixão na dança do ventre. O que se revelou uma tarefa bem mais complexa do que eu imaginava.

Tive meu primeiro contato com a Nadia por meio de uma fita de vídeo, ainda daquelas antigas, com uma linda performance dela num casino. É o vídeo mais famoso dela. Depois assisti uma fita que nunca mais encontrei (mas que tem no Youtube!) onde ela faz uma performance num teatro, com uma linda roupa azul estrelada. E desde então procuro tudo o que posso sobre ela.

Hoje é fácil de adquirir dois vídeos dela, um com a performance no Cassino (Nadia Gamal, The Legend) e outro é o vídeo de um workshop que ela deu em New York, nos EUA em 81. Recomendo muitíssimo os dois, mas para aproveitar bem o segundo é melhor saber inglês.



Mas hoje em dia com o Youtube, tudo fica muito mais acessível.

Apesar de ser razoavelmente fácil de achar vídeos dela na rede, informações sobre sua vida são bem mais difíceis de se encontrar. Existe apenas um livro com uma espécie de biografia da grande lenda da dança do ventre, e não é um livro sobre dança, mas sobre música.

Por algum acaso da vida, esse americano, Randall Grass, que é produtor musical, conheceu o trabalho da Nadia e ficou completamente apaixonado, e não a deixou de fora do seu livro Great Spirits.



Para ter uma ideia do que o autor achava da Nadia, vai aqui a tradução (minha) da Introdução do livro:

"Sem dúvida alguns podem achar a minha inclusão da Nadia Gamal, uma bailarina, meio quixotesca. Porém uma grande bailarina é uma musicista cujo instrumento é o seu próprio corpo. Nadia Gamal realmente era um "great spirit", tanto quanto um grande músico, uma artista que inspirava admiração naqueles que a assistiam. Contudo, ela é pouco conhecida fora do Oriente Médio e dos círculos de Dança Oriental, uma injustiça que que eu senti que precisava ser corrigida."

O livro não é tão detalhado assim com relação a vida pessoal da Nadia, porém é cheio de impressões sobre sua dança, o que o torna muito rico e gostoso de ler, apesar da parte que cabe a essa diva se reduzir a apenas 23 páginas. Vocês podem ver uma entrevista com o autor aqui.

A melhor fonte para conhecer a Nadia Gamal que encontrei é um site mantido por uma brasileira, Livia Jacob, no Multiply. Lá você encontra uma vasta coleção de fotos, vídeos e artigos (inclusive da revista brasileira O Cruzeiro!), tudo em inglês. Ah, sim, e não é muito amigável de ficar passeando, requer alguma paciência.

Porém, é de lá e do livro do Randall que tiro a seguinte mini biografia de Nadia Gamal.


Nadia Gamal nasceu em Alexandria, no Egito, em 1937 (ou 39, essa informação não é muito certa), filha de mãe italiana e pai grego, seu nome de batismo era Maria Carydias. Ela cresceu no meio artístico, pois sua mãe era bailarina e atriz, e apresentava um número no Casino Opera no Cairo, que pertencia à lendária Badia Massabni. Quando pequena Nadia já se apresentava com a mãe, como atriz, no Casino Chatby em Alexandria, quando era conhecida como Carry Days. E mais tarde como dançarina, fazendo números de danças européias no Casino Opera. Além disso, como na época era proibido o trabalho de menores de 13 anos no Egito, suas participações em festas e casamentos eram consideradas informais.

Foi no Casino Opera que sua carreira como bailarina oriental realmente começou, lá a libanesa Badia Massabni mantinha uma escola de dança oriental que foi a grande responsável pela primeira fusão do ballet com a dança do ventre, dando origem ao estilo hoje conhecido no Ocidente, além de tornar clássico o uso da roupa bustiê/cinturão que também é chamado de figurino hollywoodiano. Foi lá também que surgiram os primeiros grandes nomes da dança, como Samia Gamal e Tahia Carioca.

Foi nesse meio privilegiado que Nadia começou a dançar. Seu estilo era único, pois era treinada em balé, dança moderna, piano, jazz, sapateado etc.

Diz uma lenda que sua primeira apresentação na dança oriental (seu pai a proibia de dançar em público por conta da sua idade) foi aos 14 anos, quando uma das bailarinas do casino da Badia ficou doente e não pode se apresentar, sendo substituída por Nadia.


Mas Nadia também era muito estudiosa, falava 7 línguas diferentes e gostava de pesquisar a origem da dança do ventre. Sua grande missão era lutar contra a vulgarização dessa arte, chamada erroneamente de Dança do Ventre, uma tradução errônea do nome Raqs Sharqi (dança oriental), e ela costumava enfatizar "A Dança Oriental é uma arte, essa dança é a mais antiga da nossa civilização. Eu viajo pelo mundo para mostrar que é uma dança refinada, artística, tradicional e cheia de beleza."

Como bailarina ela se orgulhava de ser a única a ser convidada a se apresentar no famoso festival libanês Baalback, em 1964 (ou 1968, as fontes divergem), onde, apesar do preconceito contra a dança do ventre, ela foi aclamada por 4 mil espectadores e sua apresentação é considerada memorável até hoje. Seu reconhecimento como bailarina excepcional também veio quando ela se tornou a bailarina do palácio do Shah do Irã e também do Rei da Jordânia.

Ela participou de inúmeros filmes e shows, tanto como bailarina como como atriz, mas não existe um catálogo oficial deles, apesar de ser possível achar muitos no Youtube hoje em dia, ou no site da LiviaMultiply. Uma das coisas interessantes desses vídeos é que eles englobam quase toda a carreira da Nadia, então é possível observarmos a sua evolução como bailarina, desde novinha até quase a sua morte em 1990, por conta de um câncer de mama.

Ela se apresentou em inúmeros países, incluindo diversos lugares da Europa, porém, só se apresentou nos EUA uma única vez, tendo recusado diversos convites, dizendo que os americanos não entenderiam a sua arte. Sua única apresentação teve lugar no famoso Town Hall em 1981 e está lindamente descrita no livro de Randall Grass, e também no artigo da Suhaila Salimpour, "I remember Nadia". Infelizmente ela não foi filmada.

Nadia foi casada 3 vezes, mas nunca teve filhos. Seu legado são seus vídeos, as memórias daqueles que presenciaram sua dança inesquecível e a marca que ela deixa em todos aqueles que assistem, mesmo que em vídeo, a sua arte.

Com vocês, Nadia Gamal:



Como vocês puderam notar, esse é só o primeiro post! Ainda vamos analisar muitos vídeos e detalhes da Nadia! Aguardem!

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