sexta-feira, 23 de março de 2012

Kisses from Kairo - Drama da Deportação da Dança


Segunda-feira, 6 de junho, 2011
Drama da Deportação da Dança
Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha

Meu problema com a "Polícia da Dança do Ventre" egípcia


Na hora não foi engraçado, mas agora quando penso no dia em que quase fui deportada eu dou gargalhada. Quer dizer, quem iria pensar que dançar dança do ventre num cruzeiro no Nilo poderia te levar à cadeia e te fazer ser expulsa do Egito? Será que as autoridades egípcias não têm nada melhor para fazer do que prender bailarinas estrangeiras?

Aconteceu assim. Depois de fazer o teste para o Nile Memphis em agosto do ano passado, o gerente me colocou para dançar todas as noites. Às vezes eu me apresentava duas vezes, às vezes seis, dependendo de como estava a lotação do barco. Depois de dois meses de trabalho contínuo, as bailarinas egípcias que costumavam dançar ali antes de mim, começaram a se ressentir do fato de que agora elas só eram chamadas para trabalhar duas vezes por semana - nas minhas folgas. Ao invés de irem até o navio para verificarem a concorrência e entenderem porque eu praticamente as tinha substituído, elas tentaram acabar com a minha carreira de dança no Egito. Elas achavam que poderiam recuperar a posição delas se eu fosse embora. Então, elas chamaram a "polícia da dança do ventre" e disseram a eles que eu estava dançando ilegalmente, sem meu visto de trabalho.

Apesar de eu já ter sido contratada no Semiramis dois meses antes, minha permissão para trabalhar tinha sido cancelada por conta de um problema que envolvia eu não ter "cedido" para o gerente. Mas mesmo que ela ainda estivesse válida, ainda assim seria ilegal eu dançar diariamente em qualquer lugar que não fosse o Semiramis.

Então, quando eu saí do palco numa noite de quinta-feira e fui me trocar e colocar minha roupa de Saidi, encontrei dois policiais da dança do ventre me esperando no meu camarim. Eles foram extremamente hostis, me tratando como se eu tivesse cometido uma atrocidade. Eles me impediam o tempo todo de tirar a minha roupa de dança e vestir minhas roupas normais. Eu não entendi na hora, mas eles queriam me levar para a delegacia vestida com o meu figurino para provar que eu ainda por cima tinha infringido mais uma lei - a que requer que as bailarinas cubram completamente o ventre com um tecido. Qualquer tipo de tecido, mesmo que seja transparente (é assim que as autoridades egípcias enganam a si mesmas, pensando que assim eles cumprem os valores islâmicos de modéstia feminina). E lá estava eu, de pé, vestindo a roupa de dança do ventre MAIS SEXY do planeta! Não estava com a barriga a mostra, como também tinha todo tipo fenda do estilo stripper na parte mais alta da saia.

Então, lá estava eu, culpada de dois crimes: dançar sem permissão, e sem cobrir a barriga. Pela primeira vez em muito tempo eu fiquei sem saber o que fazer. E então o meu agente entrou voando pela sala, de punhos erguidos, pronto para nocautear a polícia da dança do ventre para me proteger. Essa não, eu pensei. Isso só está piorando. Eu gritei para o meu agente para que ele não batesse nos policiais, que isso só o levaria para a cadeia junto comigo. Meu agente, então, me mandou ir para o banheiro trocar de roupa. Obedeci imediatamente, mesmo que a polícia tenha me dito o contrário. Assim que terminei de me trocar, meu agente me mandou colocar o figurino num saco de lixo e jogar no Nilo!

"Espera, O QUÊ?!?" Eu berrei. "Jogar meu figurino no Nilo? Mas pra quê?" "Assim eles não vão poder levá-lo para provar que o figurino não cobre a barriga", ele respondeu. "Mas isso é ilegal", eu respondi. "É como se estivéssemos alterando provas!" "E daí?", ele disse, "Nesse caso eles terão de provar que além de estar vestindo esse figurino, que você o jogou no Nilo. Eles não conseguirão fazer isso. Será a palavra deles contra a sua."

Para a minha sorte, as coisas não evoluíram para chegar nesse ponto, e eu consegui ficar com o meu figurino. Porque enquanto eu trocava de roupa, o gerente do barco acalmou os policiais e os convenceu a não me prender nem me deportar. Mas foi por pouco. A parte engraçada de toda essa confusão é que os policiais admitiram que viram a primeira parte do meu show e ficaram muito impressionados com a minha dança. Eles até disseram para o meu agente que eu danço melhor do que as egípcias. "Eu sei", ele respondeu. "É por isso que nós a contratamos esse tempo todo! E ela ainda chega no trabalho na hora e não dá dor de cabeça!"

Os policiais se desculparam por todo o drama causado e prometeram que não iriam me dedurar. Mas eles fizeram um pedido, em troca. Eu devia aparecer na segunda de manhã cedinho para ganhar uma aula sobre o erro de dançar dança do ventre sem permissão. Claro que fiquei sentada engolindo aquilo tudo, mas pensando em todos os problemas que afetam o Egito - problemas que muito mais dignos de atenção do governo do que minha dança do ventre irregular. Mais isso iria requerer que o governo egípcio acertasse as suas prioridades.

De qualquer forma... MAIS UMA experiência na longa lista de histórias que aconteceram comigo no Cairo. :)

2 comentários:

  1. Que drama ein?!! Complicadíssimo tudo isso, Gerente e tals... aff, no coments, mesmo assim dançar sem permissão é um grande risco nesse lugar!! Ainda bem que no final deu tudo certo!!

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  2. kkkkkkkkkkkkk Jogar o fugurino fora? Nããããããooooo, me leva presa, mas não atiro meu lindo figurino no Nilo. Acho que eu pensaria o mesmo. :D

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