sexta-feira, 27 de julho de 2012

Kisses from Kairo - Minha entrevista com o BellyDanceFinder!



Quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha


Bellydancefinder: Conte-nos sobre você. Qual é a sua história? O que você faz quando não está dançando?
Luna: Três anos atrás eu ganhei uma bolsa Fulbright para escrever um livro sobre a história, o desenvolvimento e o declínio da dança do ventre no Egito. Eu tinha acabado de me formar em Harvard com um mestrado em Estudos do Oriente Médio, e eu estava prestes a me mudar para o Cairo. Originalmente, eu tinha planejado voltar para casa depois de 9 meses, após o término da bolsa. Entretanto, a dança me distraiu e nunca terminei o meu livro! Eu continuei a fazer aulas e a conhecer novas pessoas, e uma coisa levou a outra. Quando vi eu estava me apresentando regularmente em todos os resorts 5 estrelas do Mar Vermelho. Exatamente um ano depois disso, eu fiz um teste para o Hotel Semiramis e o Nile Memphis e fui agraciada com contratos para dançar nos dois. O contrato com o Semiramis não deu certo (por razões horríveis – N.T.: veja essa história aqui), mas eu estou feliz de dançar no Nile Memphis toda noite. Eu também danço em casamentos e eventos corporativos de luxo com a minha banda.

Apesar de eu passar a maior parte do meu tempo dançando, desenhando minhas roupas, praticando, coreografando e ensinando, eu uso meu tempo livre para escrever o meu blog sobre a minha vida como bailarina de dança do ventre no Cairo. Você pode visitar o meu blog “Kisses from Kairo” aqui. Eu também estou progredindo no meu livro, devagar e sempre. Esses dois projetos são a minha forma de alimentar o meu lado acadêmico, apesar de numa forma menos formal.

Bellydancefinder: Como você descobriu a dança do ventre? Quantos anos você tinha?
Luna: Eu descobri a dança do ventre depois de ver uma linda bailarina dançar num restaurante sírio no Brooklyn, em Nova Iorque (minha cidade natal!). E eu fiquei maravilhada com a música e com os movimentos da bailarina, sua graça, sua roupa e sua beleza, e eu decidi que eu queria aprender dança do ventre. E por coincidência descobri que aquela bailarina maravilhosa que eu estava assistindo era uma amiga minha de infância da escola de balé Joffrey Ballet School, e ela acabou por me dar algumas das minhas primeiras aulas de dança do ventre! Seu nome é Zobeida de Nova Iorque, e eu sou eternamente grata a ela por ter me interessado nessa dança. ;)

Bellydancefinder: Quem é o seu modelo de bailarina de dança do ventre?
Luna: São muitas as bailarinas que eu admiro, e por razões diferentes. Entre elas está incluída a primeira e única Asmahan do Cairo. Asmahan é A bailarina completa. Ela tem tudo o necessário para ser uma bailarina de dança do ventre fantástica, e ainda mais. Ninguém consegue conjugar dança do ventre e espetáculo como ela faz. Eu também gosto da Dina, Randa, Camélia, e, claro, Fifi Abdo!

Bellydancefinder: Quais as influências que marcaram a sua dança?
Luna: Toda a minha experiência de vida marcou a minha dança. Tudo, desde relacionamentos até viagens ao exterior e os meus muitos estudos de balé, jazz e todas as aulas de dança do ventre que fiz na minha vida.

Bellydancefinder: O que te leva a ensinar dança do ventre? Há quanto tempo você ensina?
Luna: Eu nunca tinha imaginado que eu gostaria de ensinar dança do ventre até que algumas bailarinas estrangeiras começaram a me pedir para dar aula. Eu pensei um pouco no assunto e decidi que iria fazer isso. Eu me lembrava como tinha sido estudar dança do ventre nos EUA, e sentir que de alguma forma minha educação na dança oriental estava incompleta. Estava faltando alguma coisa, e muitas coisas na minha dança simplesmente não estavam boas. Quando eu vim para o Egito e comecei a estudar com diversas professoras (estrangeiras e egípcias), eu vi uma grande melhora na minha dança – uma melhora que só vem depois de se viver ou visitar e estudar muitas vezes no Cairo. Meu vocabulário de movimentos aumentou, minha técnica melhorou drasticamente, minha musicalidade melhorou, etc. Eu agora estou numa posição em que posso compartilhar o conhecimento da minha transformação com outras que estão no mesmo ponto onde eu estava há 3 anos atrás. E eu acho que isso é importante. Eu decidi ensinar porque eu acredito que eu posso ajudar outras a começarem a fazer a mesma transformação pela qual eu passei, e eu sei o quanta satisfação isso traz.

Outro fator que me levou a ensinar é que existe tanta (con)fusão no mundo da dança do ventre. Com todos esses elementos bobos, acrobacias e números de circo que os não-egípcios impuseram à dança, a verdadeira essência da dança do ventre corre o risco de se extinguir. Eu sou uma purista, eu acredito que a dança egípcia com toda a sua simplicidade é muito mais interessante, cheia de nuances, artística e verdadeira do que todas as “criações” voltadas para o mercado que atualmente inundam a dança. Sem falar que a música egípcia é tão rica instrumentalmente e liricamente falando. Elementos como véus wings, bandejas de velas, leques de seda, tacinhas (para nomear apenas alguns) atrapalham a expressão e a interpretação da bailarina, para ter aquela riqueza, por causa dos limites que impõem aos movimentos e emoções. Um dos meus objetivos em ensinar é fazer com que as minhas alunas só dancem – de se soltarem dos elementos e desenvolverem a sua técnica e musicalidade. Uma vez que a aluna chega ao ponto em que a sua técnica é fluida e a sua interpretação musical é inspirada, ela não vai mais sentir a necessidade de mascarar a sua dança com elementos desnecessários. É o meu objetivo ajudar as alunas a chegarem nesse ponto.

Bellydancefinder: Como você descreveria o interesse das pessoas pela dança do ventre no Egito? Ele mudou ao longo dos anos?
Luna: A dança do ventre costumava ser uma forma de entretenimento muito popular no Egito há 30 anos. A economia estava melhor, as pessoas tinham mais cultura e eram mais educadas, e havia muitas bailarinas muito boas para se assistir. A situação é muito diferente hoje. O interesse dos egípcios na dança do ventre tem diminuído. Três fatores são responsáveis por isso. Primeiro, a economia egípcia hoje em dia está em frangalhos, e a maioria das pessoas não ganha a mesma coisa que ganhava nos anos 60 e 70 para gastar com entretenimento. Segundo, uma onda horrível de conservadorismo religioso varreu o Egito nos últimos 30 anos, e a maioria dos egípcios passaram a ver a dança do ventre como “haram”, isto é, pecado. Isso também resultou num número menor de bailarinas, e num número menor ainda de boas bailarinas que sejam capazes de atrair o público. Terceiro, as novas gerações de egípcios estão descobrindo outras formas de entretenimento. Para os ricos isso inclui casas noturnas de estilo ocidental e álcool. Para os pobres isso inclui maconha e outras drogas disponíveis e baratas. Tanto para os ricos quanto para os pobres há a internet. Então, não há tanto interesse na dança do ventre como costumava ter.

Bellydancefinder: Qual tem sido o maior desafio ao ensinar as suas alunas a dançar, especialmente aquelas que não foram expostas à dança do ventre desde a infância?
Luna: Meu maior desafio em ensinar, até agora, tem sido fazer minhas alunas entenderem interpretação musical e transições – porque alguns movimentos combinam ou não com uma determinada música ou ritmo. Esse é um dos maiores desafios para qualquer bailarina. E é isso que faz a diferença entre uma bailarina que tem “sentimento” e uma bailarina comum. Isso é algo que leva anos para se fazer direito, especialmente para nós, bailarinas que não vieram da cultura do Oriente Médio. E é algo em que estamos sempre trabalhando e evoluindo.

Bellydancefinder: Qual conselho você daria para as suas alunas?
Luna: Devagar! O conselho mais importante que eu recebi de uma das melhores professoras e bailarinas do Cairo, Sara Farouk. Não importa o que você esteja fazendo, faça mais devagar. Mesmo que você ache que esteja muito devagar, faça mais devagar ainda. Não importa se você está fazendo uma introdução, um número de Saidi, um taqsim ou um solo de derbake, respire fundo e não corra entre os movimentos. Você não precisa acertar todo dum e tak, e você não precisa incorporar todos os movimentos que você conhece na sua coreografia. Menos é mais.

Bellydancefinder: Quando você não está dançando, você está...?
Luna: Escrevendo o meu livro, meu blog, comendo.

Bellydancefinder: O que faz você rir alto?
Luna: Senso de humor dos egípcios.

Bellydancefinder: O que faz você perder a sua paciência?
Luna: Arrogância, narcisismo, ignorância, hipocrisia, mentiras, manipulação da verdade, indução ao erro.

Bellydancefinder: Algo que você não poderia viver sem?
Luna: Família.

Bellydancefinder: Qual o seu destino favorito de viagem?
Luna: Cuba – estou morrendo de vontade de ir de novo.

Bellydancefinder: Se você pudesse mudar uma só coisa no mundo, o que seria?
Luna: Eu garantiria que haveria uma distribuição igualitária de comida! Eu simplesmente não consigo visualizar que haja pessoas nesse mundo morrendo de fome, enquanto outras morrem de obesidade! Eu não estou pedindo que todos tenham a mesma riqueza – só que todos tenham o mesmo acesso à comida, a mais básica das necessidades e dos direitos humanos.

Bellydancefinder: Se você não estivesse ensinando dança do ventre, o que você estaria fazendo?
Luna: Se eu não estivesse ensinando, eu estaria me apresentando. Se eu não estivesse fazendo nenhum dos dois, eu provavelmente estaria escrevendo de alguma forma. Eu sempre amei escrever e descobri que levo jeito para isso, então eu fiz meu bacharelado em jornalismo na City University of de Nova Iorque.

Essa entrevista foi originalmente publicada no Belly Dance Finder.

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