sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Kisses from Kairo - Alarme Falso



Segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Por Luna do Cairo
Traduzido por Lalitha  


Atenção: se você tem alguma aversão a produtos ou problemas femininos, ou é uma pessoa sensível, pare por aqui.

Eu realmente não tinha a intenção de que o meu primeiro post do ano fosse sobre a minha menstruação, mas bom, é melhor do que um post sentimental sobre resoluções para o Ano Novo. Os anos começam e terminam e eu nunca faço resoluções. Elas não servem para nada e ninguém as cumpre mesmo. Além disso, não há nada de especial no dia 1° de janeiro. Até onde eu sei, o dia 29 de julho é tão bom quanto o dia 1° de janeiro para fazer resoluções. Porque não existe uma coisa chamada tempo. Não aqui no Egito de qualquer forma.

Voltando à minha menstruação. Não há nada mais próximo do significado de tempo do que a minha menstruação no meu mundinho. Ela é sempre pontual e dolorosa, e eu sempre posso contar que ela vai aparecer (e isso é mais do que posso dizer sobre a maioria das pessoas, eu inclusive). E de forma muito conveniente, ela veio me aterrorizar no dia 1° de janeiro, bem à meia noite, para ser exata. Não podia haver uma maneira melhor de começar o ano, não é? :) ~

A razão por eu estar escrevendo sobre a minha menstruação é que eu acabei passeando por 4 hospitais por causa dela. Em um dos meus muitos momentos avoados, eu coloquei um tampão sem me lembrar se eu havia tirado o anterior. E sendo a medrosa que eu sou, entrei em pânico. Se um tampão for deixado lá dentro ele pode causar Síndrome do Choque Tóxico (SCT), que pode ser fatal. Isso sem mencionar que eu tenho unhas extremamente longas, e eu não iria cortá-las para tirar um tampão.

A 1 hora da manhã, com todas as clínicas privadas fechadas, eu não tinha outra opção a não ser ir a um hospital. Então eu fui ao mais próximo a minha casa. Mas eu saí de lá muito antes do que eu pretendia. A recepcionista me disse que por ser estrangeira que teria que pagar o dobro do que uma egípcia pagaria para ser atendida. Pelo amor de deus, eu sou uma residente que paga impostos e que gera mais retorno nessa economia do que a maioria dos egípcios, e o hospital quer dar uma de Khan el-Khalili comigo?

Determinada a ser examinada, eu fui a um hospital com fama internacional chamado Mustashfa Al-Salam Al-Dawli. Entrei na sala de emergência e pedi para ver um ginecologista. Havia 2 na equipe médica, mas primeiro eu teria que explicar o problema para a enfermeira. E eu fiz exatamente isso, dizendo a ela que eu tinha um tampão “perdido lá dentro” e precisava que ele fosse removido.

“Você tem o que?” ela perguntou. “Um tampão”, eu respondi. “Você sabe, um Tampax?”. A enfermeira não tinha a menor idéia do eu estava falando, então eu expliquei a ela o que é um tampão. Ela ainda assim não entendeu, então eu tirei um da minha bolsa e abri, pensando que se ela visse, ela entenderia.

Nada. “Tá bom, você poderia chamar o médico?” eu perguntei. Claro que um ginecologista saberia do que eu estava falando. A enfermeira ligou para o médico e tentou explicar a minha situação, mas sem sucesso. Ela não tinha a menor idéia do que é um tampão. Eu tentei explicar novamente, mas só para ouvir ela me dizer que não havia nada que ela pudesse fazer para me ajudar. “Tudo bem, enfermeira, e que tal o outro médico?”. Ela ligou pra ele, nós conversamos, e eu fui embora. Ele também não tinha a menor idéia do que é um tampão, e eu achei que não valia à pena pagar para ver o que ia acontecer.

Danada da vida, e ficando cada vez mais apavorada, eu fui para o Qasr El-Aini, que supostamente é um hospital francês. Certamente os franceses sabem alguma coisa sobre tampões.

Nada. A única coisa francesa naquele hospital era a sua história. Eu fiz o mesmo discurso para o ginecologista residente de lá e peguei o tampão aberto na minha bolsa para mostrar, só para dar de cara com o olhar confuso dele e ouvir “me desculpe, eu não sei o que é isso então não posso te ajudar”.

Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhh! Eu não me importo de que cultura você é... como você pode se auto-intitular um ginecologista e não saber o que é um tampão?!? E o que eu tenho que fazer para que alguém coloque a mão lá dentro para tirar alguma coisa? Ir a um mecânico? Dizer a eles que tem um pote de ouro no final do arco-íris? Meu deus! Você poderia imaginar que como a maioria dos ginecologistas egípcios é homem seria mais fácil ser examinada.

Depois disso, fui andando até um hospital público ali perto. Já eram 3 horas da manhã, e eu estava cansada, com frio, irritada e em pânico. Para piorar ainda mais as coisas, eu ouvi uma mulher gritando “assassinato” de dentro do hospital enquanto eu ainda estava numa boa distância. “Ó céus, isso é um hospital ou uma sala de tortura?” pensei comigo mesma.

Relutante, entrei no hospital e pedi para ver o ginecologista. Um homem jovem veio me cumprimentar e perguntou qual era o problema. “Doutor”, eu disse em árabe, “você sabe o que é um tampão?” “Sim”, ele respondeu. “Tem certeza? Eu devo mostrar a você?” “Não precisa”, ele respondeu. “O que aconteceu?”, e eu contei ao médico que eu estava no meu beríodo menstrual, e que achava que eu tinha perdido acidentalmente um tampão lá dentro, e que eu precisava que ele fosse removido antes que causasse uma infecção bacteriana potencialmente fatal.

E então o médico disse as palavras mágicas: “Síndrumi du chuqui túxicu” :P

“Thank you!” eu soltei em inglês. “Você realmente sabe do que estou falando! Eu estive em 3 hospitais e ninguém sabe o que é um tampão, quanto mais SCT!”. O médico riu. “Heeya di masr.”  Esse é o Egito. :) Então ele tirou a minha pressão e me disse para sentar e esperar enquanto ele terminava as coisas com a paciente que gritava.

Fiquei sentada numa salinha de recepção por pelo menos meia hora, ansiosa para ser atendida. Nesse meio tempo, a paciente dele escapuliu da sala de atendimento e parou na minha frente. Ela estava gemendo, e havia manchas de sangue por toda a sua galabiyya de veludo bege. Eu, por minha vez, estava começando a pensar duas vezes sobre deixar esse médico encostar em mim. E estava prestes a ir embora...

... só que fiquei distraída com a visão de uma pobre mulher que tentava tirar nada menos do que 12 brincos das orelhas. Aparentemente, ela estava se preparando para fazer uma tomografia computadorizada, mas estava tendo dificuldade em retirar todas aquelas tarraxas de 24 quilates. Elas deviam estar bem presas, porque a cada puxada ou torcida que ela dava, mais lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Nesse ponto, quase toda a equipe médica já havia tentando ajudá-la. Um enfermeiro baixinho e sem quase nenhum dente da frente, se aproximou das orelhas da mulher com um par de pinças médicas bem compridas e desatarraxou a força os brincos, um de cada vez. Que... m... é essa?! Eu não podia acreditar no que estava vendo. Se eu não tivesse ficado enjoada com o pus que saía das orelhas inflamadas dela, eu provavelmente teria me oferecido para ajudar. Mas ao invés disso, fiquei de joelhos catando os brincos e tarraxas que iam caindo.

Minha caça aos brincos foi interrompida pelo médico, que agora estava pronto para me atender. Ele me levou para uma área cercada por cortinas com duas mesas de exame. Ele, então, me deu um lençol para me enrolar da cintura para baixo e depois saiu para que eu me despisse. Mas eu não conseguia arranjar forças para tirar as calças. Para começar, o lençol estava coberto com manchas de todo tipo de material biológico imaginável... vermelho, amarelo, marrom, verde. As mesas de exame estavam nuas, sem aqueles barulhentos papéis que os médicos colocam nas mesas por razões higiênicas nos EUA. E havia diversos lenços de papel sujos de sangue pelo chão. Oi? Por que não havia uma lixeira de material biológico hospitalar aqui?!?

(Falando de lixeiras de material biológico hospitalar, eu me lembrei da vez em que eu acompanhei uma amiga minha ao hospital para fazer uma lipoaspiração nas coxas. Quando o procedimento acabou, o médico nos mandou para casa com um saco plástico preto com o que ele tinha retirado de gordura das coxas dela! Imagine só! Carregar a sua própria gordura por aí num saco plástico! Ele provavelmente não tinha nenhum lugar para jogar aquilo fora. E o saco estava pesado também. :D )

Se assim é que são os hospitais egípcios, que tipo de inferno devem ser os presídios?

Então lá estava eu, paralisada de nojo. Eu não sabia o que fazer. Ir embora? Reclamar? Vomitar? Então eu me lembrei de um bom conselho que eu recebi quando eu estava na Síria e queria sair do meu apartamento porque eu não estava me dando muito bem com o banheiro turco: “Não seja uma americana mimada”. Sem dúvida.

Inferno. Se eu consegui lidar com os banheiros turcos tendo uma intoxicação alimentar violenta, eu poderia sobreviver a um exame ginecológico nesse hospital. Além disso, eu queria tirar aquele tampão. Então eu pedi um lençol limpo e decidi encarar. Só que a enfermeira tirou um lençol igualmente sujo de uma mesa de exame próxima e me entregou. Não... não é isso o que eu quis dizer com limpo! :P

Rapidamente eu entendi que isso era o melhor que eu iria conseguir. Então eu tirei a parte de baixo das roupas, enrolei de qualquer jeito aquele pano nojento em torno de mim, e chamei o médico. Graças a deus, eu não precisei pedir que ele usasse luvas de látex. Então o médico me fez uma série de perguntas, uma das quais foi “você é virgem?”. Bom, o último ginecologista que me examinou parecia achar que sim. Conta?

E então, o médico levantou as mãos, preparado, e me disse no seu inglês bem egípcio “A-agura eu vou exblorar a sua vagina.

>*D

Ai. Meu. Deus. Eu não consegui me controlar. Eu comecei a rir na cara do pobre homem! Ele vai exblorar minha vagina! Ótima escolha de palavras. :) O médico ficou vermelho, e eu me desculpei de todas as formas possíveis, mas eu não conseguia conter o riso. Mas, assim que eu consegui me recompor, o médico começou a “exblorar”. E eu comecei a gritar, assim como a paciente anterior. Aqueles foram facilmente os 10 segundos mais dolorosos que eu experimentei em muito tempo. E foi tudo a toa. Porque afinal de contas, eu não tinha perdido um tampão lá dentro. Eu havia esquecido que eu tinha tirado. Hamdullah. (N.T.: palavra em árabe que quer dizer graças a Allah)

E como o hospital era estatal, eu não precisei gastar nem um centavo com esse alarme falso – nem mesmo sendo estrangeira. E eu estava agradecida por isso, e agradecida por ter conhecido um ginecologista experiente. Não sei se eu jamais irei naquele lugar novamente, mas quem sabe? Talvez o médico atenda em casa. :D

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